19 de fevereiro de 2011

História do Volkswagen Beetle (Fusca) (Mania de Carros)

Foi em 22 de Junho de 1934, esta foi a data em que a Associação Nacional da Indústria Automobilística Alemã firmou contrato com Ferdinand Porsche, para que ele projetasse o que viria a se transformar num grande fenômeno, o carro do século XX, o mais querido, o mais vendido, o Fusca de todos. Adolf Hitler tinha em mente o sucesso do Ford T (1908 a 1927) e foi exatamente isso que determinou como prioridade para a industria , um carro popular, capaz de transportar a família com velocidade maxima de 100 Km/h, que pudesse enfrentar rampas de 30% e que fizesse em torno de 14 Km/litro. Hitler recomendou ainda, que seu motor fôsse refrigerado a ar, pois o inverno rigoroso da Europa congelava facilmente o líquido de arrefecimento dos motores refrigerados a água, por não haver praticamente garagens fechadas e muito menos com calefação.  E a questão do preço, o carro deveria ser acessível ao povo em geral de forma que os compradores pudessem adquirí-lo economizando 5 Marcos por semana, o que parece que não era tão difícil de se conseguir. Vejam só, quem diria, um Hitler 'preocupado com o aspecto social'. Pena que depois não se preocupou com perdas sociais. Mas, vamos falar de coisas boas, vamos falar um pouco sobre o Fusca; Ferdinand Porsche já vinha trabalhando em projetos similares que tentou viabilizar, mas que não puderam ir em frente devido aos recursos escassos dos fabricantes para os quais apresentou suas idéias. Mas, depois do acordo estabelecido com a Associação da Indústria Alemã, Ferdinand pôde adaptar as soluções já encontradas nos projetos anteriores em protótipos que serviriam de base para o Fusca.  Prototipo VW-3 1935/36 (Três unidades construidas), Prototipo VW-30 1937 (Trinta unidades construidas) O KDF Wagen ficou pronto em 1938, este passou a ser o modelo definitivo com desenho de Erwin Komenda e motor 4 cilindros, 1131cc de 25 CV. Foi o primeiro a entrar em produção e deveria ser comercializado em larga escala sob forte campanha publicitária, mas acabou sendo utilizado exclusivamente para fins militares, já que a guerra iria atingir proporções a nivel mundial. Somente no período que antecedeu o fim da guerra ele teve sua produção retomada pelos aliados Ingleses, que administraram a fabrica de Wolfsburg a partir de 1945, ainda para fins militares e serviços públicos. Em 1948, já sob controle do novo governo Alemão e graças a Heinz Heinrich Nordhoff, designado como diretor geral da fabrica, o Fusca recebeu algumas alterações importantes e sua produção teve impulso decisivo naquele galpão 'arejado' com perfurações de balas. Ali Nordhoff não só trabalhou, mas também passou até a dormir para dedicar-se integralmente ao desenvolvimento industrial. E ali se manteve no cargo enquanto viveu até 1968. Aqui está o fruto da genialidade do seu criador, que renasceu através da extrema dedicação e de um trabalho qualificado, característica que o distinguiu para sempre.
Fusca 1949. O raro Hebmüller "double face" de 1949, atualmente um classico muito especial que foi produzido por uma fabrica de carrocerias de mesmo nome até 1952. Visto de longe confundia algumas pessoas, pois não sabiam se ele estava indo ou vindo. Imaginem os bêbados...  Em 1953 o Fusca ganhou modificações, entre elas o vidro traseiro oval, luzes de posição maiores, painel redesenhado, para choques lisos, etc. Ficou uma beleza, já era um carro desejável na Europa e sinalizava força na exportação. Montado pela Brasmotor até 1953 e posteriormente pela propria VW, o Fusca passou a ser fabricado no Brasil com 54% de índice de nacionalização em 1959, já com o vidro traseiro retangular, novo painel e para choques com tubos protetores suplementares, como era na versão Alemã para os EUA. Inicialmente teve volante com raios planos, depois em 1960 recebeu outro com formato em cálice, como havia em alguns carrões, 'um luxo'. A famosa bananinha do pisca na coluna ainda existia e ficou até 1961 quando foi substituida por sinaleiros nos para lamas dianteiros.

Este foi o nosso primeiro VW Sedan 1200, popularmente chamado de Fusca, Fuca ou Fuqui, de acordo com a região. Ele inaugurou o conceito racional e pratico em termos de automóveis no Brasil e não demorou muito para predominar em todos os cantos do país. Os mais tradicionais "Fordeiros" e Chevroleteiros" começaram a trocar seus enormes carros importados por um Fusca, pessoas de todas as classes sociais passaram a ter um. Ele foi o 1° carro da maioria dos compradores e depois o 2°, o 3°... e o eterno de muitos. O Fusca contaminou milhões com um vírus benéfico chamado - Fuscamania. No começo dos anos 70 foi lançado na Alemanha o modelo 1302, que infelizmente não tivemos aqui. E depois o modelo 1303 - Além dos vidros laterais e traseiro maiores note-se o para brisas curvo e a suspensão Mc Pherson na dianteira.

A Karmann foi uma indústria importantíssima de carrocerias e fez parte da historia de marcas famosas, como a Porsche, entre tantas outras. Na VW ela esteve presente desde o começo produzindo o VW Karmann Cabriolet, nos anos 50 o VW Karmann-Ghia e outros nas décadas seguintes. O belo Käfer Karmann Cabriolet 1980 em Raio X . A década de 80 marcou o fim da produção do Fusca em (quase) todo o mundo e 1986 foi o ano da primeira despedida do Fusca no Brasil. Para deixar mais saudade ainda, a VW lançou este modelo Ultima Série irrepreensível, maravilhoso. Mas, o Fusca permaneceu sob tamanha aprovação que teve de voltar em 1993 sob o incentivo do então, presidente Itamar Franco, cujo nome acabou adotando até sua derradeira despedida três anos após, em 1996. E não adiantou, mesmo tendo sua produção descontinuada, já há 13 anos, ele continua sendo o carro usado mais vendido em nosso país! No Mexico o Fusca resistiu por mais tempo, mas a corrida tecnológica e os fatores de produtividade determinaram o seu triste fim também naquele país. No dia 30 de Julho de 2003, a ultima unidade do fenômeno, do simpático carrinho que conquistou milhões de pessoas em todo o mundo durante mais de meio século, saiu da linha de produção para nunca mais........bem, para os imortais não existe 'nunca mais', não é?  Sergio Pininfarina, presidente de um dos mais conceituados e tradicionais centros de estilo na Italia, foi consultado pelo governo Nazista no fim dos anos 30 sobre possíveis melhoras que poderiam ser feitas no desenho do Fusca. Pininfarina sugeriu apenas que a área envidraçada do carro fôsse aumentada e acrescentou que o desenho do Fusca não merecia retoques, pois era singular, perfeito. Ele tinha razão, aquele formato robusto, equilibrado e carismático tornar-se-ia perpétuo na lembrança e nos corações das pessoas. Assim como o seu motor, que não pára de funcionar em todos os lugares.

Olhar para 50 anos atrás não é uma tarefa simples, principalmente quando praticamente não restaram registros fidedignos de detalhes, somente um relato básico da seqüência dos acontecimentos. Mas este é o desafio diuturno de quem procura resgatar fatos históricos. Uma das coisas que é imprescindível é olhar para o passado com os olhos e o sentimento da época. De nada vale pensar em condições atuais, com fábricas amplamente automatizadas, limpas e providas de toda a infra-estrutura necessária, para avaliar o que ocorreu na incipiente “fábrica” da Volkswagen do Brasil no fim da década de 50.
Fazendo uma linha de tempo, lembramos que a Segunda Guerra Mundial terminou em 1945, o que era para ser a fábrica do Volkswagen de Passageiros (naquele tempo o apelido Käfer na Alemanha, muito menos o apelido Fusca no Brasil, haviam sido criados) se resumia a escombros fumegantes depois de prolongados ataques aéreos que só pouparam, cirurgicamente, a usina térmica do complexo industrial. Somente seis anos depois do fim da guerra, em 1951, a Brasmotor já montava Sedans a partir de CKD’s. Oito anos depois do fim da guerra, em 1953 a Volkswagen se estabelecia como empresa no Brasil, ainda trabalhando com CKD’s, inicialmente num galpão alugado na Rua do Manifesto, no bairro do Ipiranga, em São Paulo Capital. Três anos depois, 1956, começa a construção da fábrica na Anchieta em São Bernardo do Campo, um ano depois, em setembro, sai o primeiro veículo Volkswagen nacional, uma perua Kombi. E somente 14 anos depois do fim da guerra saiu o primeiro Volkswagen de Passageiros nacional, em 3 de janeiro de 1959. Algo realmente admirável para uma empresa totalmente destruída e que contou com a ajuda da Força de Ocupação Inglesa e de recursos carreados pelo Plano Marshall para seu soerguimento. A partir deste ponto vamos deixar um pouco o rigor histórico de lado e passaremos a nos referir ao “Volkswagen de Passageiros” como “Fusca”. 
A fábrica no início de sua construção já em 1956 tinha uma ala “em condições” que permitiram a transferência da linha de montagem da Rua do Manifesto para a Anchieta, mas, na realidade estas “condições” eram muito precárias. Relatos de pioneiros da época do início da fabricação de Fuscas nacionais reportam que, por exemplo, os escritórios sofriam muito em dias de chuva devido ao barro do canteiro de obras; em dias secos o flagelo era o pó e, pior ainda, todo o ambiente era infestado por ratos e ratazanas, tornando o trabalho bastante penoso. Ainda não foi possível encontrar uma foto do primeiro Fusca fabricado na linha de montagem, semelhante àquela da Kombi 00001 – fica lançado o repto para a procura deste documento histórico. Foi feita uma pesquisa na Volkswagen do Brasil e ai se verificou que, infelizmente se veicula há muito tempo fotos de carros com vigias traseiras ovais (que foram fabricados até 1958) como sendo carros 1959. Este é um dos mitos errados propalados pela própria montadora em livros e publicações internas e externas, mas está em tempo de reconduzir os fatos a suas origens corretas.
Nosso primeiro Fusca nacional já saiu com a vigia traseira retangular marcando uma das mudanças importantes no visual do carro, que de duas janelinhas até 53 primeira série passou para oval na segunda série deste ano, vigia esta que durou até 1958; a vigia retangular permaneceu, mas foi aumentando em área com o tempo.
Foi feito contato com o Museu da Volkswagen na Alemanha (Dr. Ulrike Gutzmann - Historische Kommunikation - Volkswagen Aktiengesellschaft), igualmente sem sucesso. Por lá não há material sobre o primeiro Fusca brasileiro. Ocorre que todo o esforço de marketing foi concentrado pela Volkswagen do Brasil para a inauguração da Fábrica que ocorreu no dia 18 de novembro de 1959 (talvez assunto para outro artigo). Deste evento há fotos e registros, mas o mesmo ofuscou o registro histórico da fabricação do primeiro carro, ocorrido meses antes.
Também não resultou em um sucesso muito amplo uma longa pesquisa ao Centro de Memória da Prefeitura de São Bernardo, onde foram pesquisados jornais e revistas da época. Em matéria de Fusca foi encontrada uma propaganda de Natal da Volkswagen do Brasil no Jornal “A Vanguarda” de São Bernardo do Campo, na edição de 20 de dezembro de 1958 com um interessante desenho de Fusca.
Mas o fato histórico ora pesquisado ocorreu no dia 3 de janeiro de 1959: ficou pronto o primeiro “Volkswagen de Passageiros” fabricado com um grau da nacionalização de 54%. Seis dias depois este carro era vendido pela concessionária Marcas Famosas, que junto à Brasilwagen, Cibramar, Bruno Tress e Sabrico fazia parte do grupo de revendedores autorizados Volkswagen (ainda não se falava de Concessionárias) na capital de São Paulo.
Esta relação fazia parte de um anúncio veiculado na página 2 da seção Assuntos Gerais da Folha da Manhã em sua edição de 7 de janeiro de 1959. O mote deste anúncio era: “Hoje nas estradas do Brasil VOLKSWAGEN BRASILEIRO”. Este carro foi vendido ao senhor Eduardo Andrea Matarazzo. O encontro deste anúncio foi o que resultou da pesquisa feita junto ao Banco de Dados do Grupo Folha. Realmente o início da fabricação do Fusca nacional foi tudo menos algo glamuroso, foi na verdade uma tarefa de heróis anônimos, enfrentando dificuldades inimagináveis nos dias de hoje, sem esmorecer, abrindo o caminho para uma gloriosa trajetória de um carro que afirmo, ainda é necessário para países do terceiro e quarto mundo.
Em recente notícia divulgada pela imprensa de São Paulo a venda de Fuscas, obviamente usados, ultrapassou a venda de carros novos! Segundo notícia recente veiculada pela imprensa em 9 de dezembro de 2008: por incrível que pareça, o VW Fusca foi o sexto modelo mais vendido do ranking dos carros usados emplacados em novembro (que inclui veículos com até 30 anos de uso), divulgado pela Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), com um total de 15.894 unidades.
Transpondo esta situação para rincões distantes deste gigantesco país continente, onde as estradas ainda são precárias e um carro confiável, robusto e de manutenção simples e conhecida é uma necessidade, vemos como o Fusca ainda é vital para muitos usuários que fazem de tudo para mantê-lo andando. Há casos em que o uso do Fusca é levado até a extremos, como foi flagrado em Barcelos que fica no Rio Negro no coração da Amazônia. Lá existia um único carro que um dia foi um Fusca, e mesmo com a falta de peças, serviu à comunidade por muitos anos!
Acho que a trajetória que se seguiu anos a fio, durante a qual o Fusca trouxe felicidade e progresso para milhões de Brasileiros, pois foram produzidos mais de três milhões de carros no Brasil, é muito bem retratada numa propaganda cujo mote é: “Qual é a posição social do dono deste carro? (e uma foto mostra um Fusca)” segue-se um texto que é uma obra prima:
-“É melhor não arriscar nenhum palpite.
Você pode pensar que o dono é um bancário e depois descobrir que é um banqueiro...
Ou pensar que o dono é um estudante, e depois descobrir que é o próprio reitor da Universidade...
O Volkswagen é assim mesmo. Ele nada revela sobre seu dono. Ou melhor, quase nada.
Porque alguns traços de caráter são revelados automaticamente pelo próprio fato de o dono ter um VW.
Por exemplo, o senso prático.
Quem tem Volkswagen resolve o problema do transporte da maneira mais racional.
É senso de economia.
Quem tem VW, faz economia em cada quilômetro.
E faz economia também na hora de vender, pois o VW é o carro que melhor compensa o dinheiro investido na hora de comprá-lo.
Adivinhar a posição social do dono de um Volkswagen é difícil.
Mas é fácil conhecer alguns traços muito importantes de seu caráter.
Você por acaso tem um VW (Fusca)?
Parabéns.
Independentemente de sua posição social.”

                                   Volkswagen New Beetle (Versão classica do Volkswagen Fusca)
                                          Volkswagen Fusca 1970 (lançamento da Volkswagen)

O tempo em sua desabalada carreira leva as pessoas inevitavelmente ao esquecimento, mormente nos dias de hoje quando o tempo parece encurtar-se ante à avalanche de tarefas que caem sobre nossos ombros. Ai é que se torna importante dar uma parada de vez em quando para lembrar de fatos importantes que marcaram nossas vidas e o progresso de nosso país. O início da fabricação do Fusca nacional foi um destes fatos que este artigo tem como objetivo lembrar e preservar para o futuro.

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